1º de Maio, dia do trabalhador, 2024

Hoje é o primeiro de Maio, dia de quem trabalha, mas nas ruas de Ponta Delgada, em São Miguel, não há mobilização popular com demonstrações ou cartazes, nem se ouvem palavras de ordem ou se vê participação em marchas de protesto. Disseram-me que havia um piquenique no Pinhal da Paz que é um lugar lindo, mas afastado e escondido da azáfama de uma cidade. Não me apetece um evento recatado. Quero estar na rua a gritar bem alto que todos e todas merecemos uma vida boa, a reivindicar direitos laborais, a exigir que as promessas de Abril sejam cumpridas.

Dá-me pena saber que, cinco décadas depois do 25 de Abril e do primeiro Maio em liberdade, as pessoas estejam acomodadas a essa liberdade de resmungarem nas redes sociais, sem o ardor de estarem presentes nas lutas necessárias. Talvez, como eu, sintam um nevoeiro mental e cansaço depois de dias a celebrarmos Abril. Mas os sonhos da Revolução dos Cravos não se restringem a uma data porque o 25 de Abril é um projeto de uma nação que se quer mais justa, mais inclusiva, mais democrática. É a esse projeto ideológico que eu dedico os meus esforços.

 

PALAVRAS DE RESISTENTE

Como rochas sedentas pelas ondas

Aqui me fico à espera da maré alta,

Escrevendo nas linhas d´água tantas perguntas

Na volta das respostas que eu ouvia.

Como um galho estalado pelo meio

Aqui me fico à espera das raízes

Violadas pela espada que me abria,

E enganada por palavras de enredeio.

Mulher, no feminino,

Aqui estou para ser contada

Aqui estou eu, resistente,

Esperando que as palavras que semeio

Não se enrosquem no sargaço

Nem se estalem pelo meio.

São palavras de tecedeira,

Mulher dura e arregateira,

São palavras de parideira

Escritas neste espaço

Onde eu resisto a vida inteira.

 

25 de Abril, 2024, 50 anos de democracia 

 

ABRIL

 

Aquele foi o dia das palavras habitadas,

Claras e inteiras como as madrugadas.

Abrimos de par em par as janelas

E, bebendo o sol em liberdade,

Vimos pássaros em mergulho nos cravos

Içados em mãos erguidas

Pelas ruas antigas da cidade.

 

Aquele foi o voo primeiro, adiado,

E, das nossas janelas,

que já não estavam fechadas,

Mergulhámos como aves perdidas

E era tanta a alegria

Que abrimos os braços,

pessoas aladas.

 

Nomeámos a esperança e a raiva caladas,

Inventando novos nomes a dar às coisas,

E nas palavras habitadas

Sonhámos juntos um novo porvir.

 

Foi o tempo de espontânea amizade,

Quando a gente se soltou a sorrir.

Os abraços foram mais fortes,

as vozes foram mais sonoras,

Em Abril, cantámos em liberdade,

Ao comprido dos sonhos e das horas.   

 

E agora que Abril nos lembra

Dos sonhos desse tempo de outrora,

Aqui estamos para renovar

As palavras então habitadas

Porque os anseios de uma vida boa

Não se atiraram para o mar.

 

Aqui estamos, todos juntos,

Camaradas dessas lutas

E das que se fazem nesta hora,

Aqui estamos nesta cidade

Para, de novo, exigir

A forma e o corpo

Dessa palavra liberdade.

 

 

 

20/04/2024

Neste azul-cinzento encontram-se as viagens da alma 

de quem pelo silêncio se foi 

e dos que pelo azul aqui ficaram.

Nestes traços de silêncio-azul 

encontra-se uma rosa dos ventos

daqueles que por outras águas se foram

e dos que o silêncio guardaram.

Do cais foram-se mágoas e lembranças

dos beijos, braços e deste mar,

na praia, esperanças marejaram pelos olhos

derramando-se, fio a fio, aos molhos,

daqueles que escolheram regressar,

porque esta é a cor da nossa alma,

este azul-cinzento e o mar.

Em ENTRE MAR E A FLORESTA, 2019

19/04/2024

Aqui estou a tentar criar/construir um website, sem que eu tenha quaisquer conhecimentos da matéria. O que vale é que os modelos dão muito jeito e lá vou eu, atrapalhando-me a toda a hora, usando palavras e imagens para comunicatir convosco, meu leitor e minha leitora.

Gostaria que quem lê os meus textos, comunicasse comigo para termos um círculo de leitores e, quem sabe, um círculo de escritores. A verdade é que a distância geográfica nada impede a nossa comunicação, e atrevo-me mesmo a dizer: a nossa amizade. Portanto, escrevam-me mensagens, tanto na minha página de Facebook, Avelina da Silveira: Moonwater Editions, como na secção de contatos e responderei prontamente.

Abraços!    

 

18/04/2024

Tento começar em branco uma nova etapa nesta plataforma, divulgando a minha escrita, com ilustrações da minha arte.Por uma variedade de razões, deixei de fazer artes plásticas. Fiz doação do meu material a vários artistas e encerrei o atelier. Não foi doloroso, pelo contrário. Precisava de ser criativa de outro modo, sem o trabalho extenuante de preparar exposições. Assim, o atelier (onde chove por dentro quando há tempestades e tem bolor por todos os cantos), é agora uma oficina de escrita.Com muita esperança que me acompanhem nesta jornada de criatividade escrita, envio-vos saudações do coração.

 

Noite é a raiz do tempo por abrir;

onde o silêncio escorre 

como um fio de lua 

onde me perco

à espera da madrugada